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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

[RESENHA] HEMLOCK GROVE



Hemlock Grove é uma série feita pela Netflix e lançada em 2013 com término em 2015. Constituída de três temporadas, ela se baseia num livro de mesmo nome e que fora lançado em 2012, por Brian McGreevy. A sua primeira temporada segue mais de perto o livro e eu considero a melhor de todas as três (ou a única boa). A história trata de um tema sempre interessante e instigador: lobisomens, criaturas sombrias e uma nova espécie, parecida com um vampiro, mas chamada de upir. Esse termo se refere a lendas eslavas e romenas sobre criaturas que se alimentam de sangue. Isso coloca as premissas sobrenaturais da história.

   Paralelo a isso vemos a amizade dos dois personagens principais, Peter Rumancek e Roman Godfrey. O primeiro se transforma em lobo nas noites de lua cheia, cigano, pobre e andarilho. O segundo, upir (a princípio não se dá conta disso), rico e herdeiro de uma fortuna. A dicotomia está aí estabelecida. O interessante da primeira temporada é a apresentação desses elementos ao mesmo tempo em que vão ocorrendo assassinatos misteriosos cometidos por alguma fera desconhecida. Isso vai gerando um clima de suspense e tensão bem interessantes. A cidade, de mesmo nome da série, vai apresentando mistérios, como a prima de Roman, Letha Godfrey, ter engravidado de um anjo. Esses e outros mistérios vão ajudando a prender a atenção do público.

Peter Rumancek e Roman Godfrey.

   A primeira temporada transcorre diante desse clima, sobrevive a alguns episódios desnecessários e chega o clímax com a revelação do(a) assassino(a) e o eventual conflito que se segue. A história da primeira temporada termina com muitas possibilidades (a transformação de Roman, a criança de Letha, o projeto Ouruboros, o que teria acontecido com Shelley, irmã de Roman) e deixa um grande ânimo para o restante da série. Bem, é a partir daí que muitos problemas surgem. Talvez, porque a primeira temporada segue o livro e termina mais ou menos da forma que o livro termina. A segunda temporada iria seguir a trilha dos personagens, mas sem o livro como base para o roteiro.


   Todas essas pontas soltas que ficaram na primeira temporada se perdem. O clima de mistério e tensão da primeira temporada vai se perdendo pouco a pouco. Resoluções forçadas, como a de Peter não viajar com sua mãe para continuar investigando os seus sonhos demonstram a fragilidade do roteiro (coroada com uma linha de fala horrível da mãe de Peter: “As pessoas de Hemlock Grove precisam de você. É muito importante que você fique”). A temática da ordem do dragão e de sua relação com a Igreja Católica não são bem aproveitadas e desenvolvidas. E o promissor percurso de Roman como upir decepciona em todos os sentidos. O que ainda alenta como um suspiro de retomada é a cena final da segunda temporada, deixando um grande cliffhanger com a apresentação de uma nova besta (uma espécie de dragão alado enorme) cuja origem não se havia dado nenhuma informação.

   A terceira e última temporada é a pior de todas. Vindo com a proposta de ser um “fechamento da história”, ela não faz isso bem. O principal problema está na queda do personagem de Peter Rumancek. Desde o início o protagonismo está dividido entre ele e Roman, e sob muitos aspectos ele é o personagem principal da primeira temporada. Na terceira temporada ele cai muito no seu destaque. A sua trama regride para uma subtrama sem muito apelo, mesmo sendo ele o personagem melhor desenvolvido ao logo da série. O seu parceiro, Roman, é afetado pelo péssimo trabalho do ator, Bill Skarsgård, que simplesmente não convence muito. A terceira temporada foca mais no desenvolvimento das peculiaridades da raça dos upir. Mas, isso em nenhum momento prende o público. O vilão lançado no final da segunda temporada e apresentado como virtualmente invulnerável possui como única fraqueza uma toxina produzida pela mordida dos upirs (sério que cientistas brilhantes como Pryce não cogitaram isso em nenhum momento anterior?) que é revelada no final.

Camille de Pazzis como Annie Archambeau.

   A personagem nova, Annie, no final das contas é totalmente inútil. Não acrescenta muita coisa e apresenta um dos piores momentos de psicologia dos personagens da série. Apresentando-se como filha perdida de Olivia Godfrey e também como uma upir, ela se mostra afetiva, boazinha e disposta a um bom relacionamento com a mãe fria e distante. Para, subitamente, no episódio final revelar que sempre soube que a mãe tinha matado o pai dela, que a estava testando. Testando para quê? Isso nunca saberemos e talvez nem mesmo os roteiristas saibam.

   Por fim, vale elogiar a cena de confronto entre Peter e Roman, ambos no auge de suas capacidades sobrenaturais. As cenas são boas e o diálogo está à altura do relacionamento dos dois (talvez pelo fato de Peter como lobo não poder responder, não cai em um clichê melodramático). A trilha sonora é boa, mas com nada arrebatador. As melhores tomadas e cenas ficam para a primeira temporada, em particular o primeiro episódio que é muito bem feito. Mas as atuações fracas, os furos no roteiro, as forçadas e reviravoltas sem sentido comprometem a série como um todo. Ela é válida para os amantes de histórias de lobisomem, vampiros (upirs) e coisas do gênero. E mesmo com esses problemas todos, a série gerou em mim um vínculo bom com a história toda. E com alguns personagens. Especialmente o lobo que só se arrebenta enquanto tenta fazer o bem. Classifico com 3 estrelas.


Leonardo Falconeri

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